terça-feira, 13 de abril de 2010

PRIMEIRA PESSOA DO SINGULAR

Se você observar bem o céu em uma noite estrelada, você verá que as estrelas cintilam de maneiras diferentes, cada uma a seu modo, embora sejam tão parecidas em meio à imensidão. Sou como elas, minimamente diferente, mas com a essência e natureza inalteradas. E com a grandeza de ser.
Sou ainda muitas coisas ao mesmo tempo. Gostos, desejos, amores e sonhos são minha composição, principalmente. São as minhas constelações, o que une todas as minhas características.
Gosto loucamente de folhas secas caídas das árvores no outono. Não sei bem o porquê. Acho que gosto porque gosto. Talvez porque seja bonito de se ver. Talvez eu apenas goste de gostar disso, e pronto. Gosto também de como o sol matinal bate nas árvores e faz surgir novos tons de verde. Lindos tons de verde! Gosto de comer cerejas, gosto do seu doce natural e da sua cor, gosto de comê-las pela época que me fazem lembrar, como se seu sabor preparasse meu corpo para festejar.
Minhas características são fortes, sem, entretanto, serem delimitadas. Iguais as memórias. Como a lembrança da primeira vez que se anda de bicicleta (meus pés ainda estão fora do chão), vários dias de cheiro de terra molhada pela chuva, dias inocentes e preciosos em que se quer encontrar potes de ouro no fim dos arco-íris, dias esperando pelo Papai Noel à meia noite; todos presos na eternidade da minha recordação. Um exemplo peculiar de que me lembro é o da primeira vez em que soube que meus olhos eram verdes, devia ter uns três para quatro anos. Perguntei a minha mãe – como se essa pergunta fosse resultado de uma conclusão incrível, se ela enxergava verde, já que possuía olhos daquela cor. Então, ela me respondeu com outra pergunta. Perguntou-me se eu enxergava verde com meus olhos verdes. Pronto, foi uma revolução. Um nó no cérebro de uma criança! Por que era assim? Porquê? Por que não enxergava todas as coisas, o mundo, as pessoas, tudo, verde? Porquêêêêêêêê?
Essa é uma estrela que marca meu céu até hoje, e que acredito ser para todos os dias da minha vida, até o fim. A busca pelas verdades, por respostas, pela vida em si, por mim. Busco-me constantemente e, com certeza, nunca me encontrei por completo. Tenho mil faces estelares. Sou humana, e isso faz de mim um ser sujeito a mudanças. E ah! Como é bom mudar. Tornar-me mais brilhante. Qualquer dia posso ser o próprio Sol, e não mais todas as estrelas cintilantes; apenas e unicamente crescer.